De todos os setores, certamente o varejo é um dos que mais sofreu com a pandemia do coronavírus. Isso tem a ver com uma quantidade ainda elevada de lojas que ainda não investem na presença digital.
Segundo uma pesquisa feita pelo instituto McKinsey em parceria com a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), no início de 2019, 80% das empresas pesquisadas ainda estavam nos primeiros estágios de maturidade em marketing digital.
Elas são as mais afetadas por conta da necessidade de fechar as portas. Considerando esse cenário, a necessidade de inovar se faz mais presente do que nunca. Por isso, trouxemos algumas inovações que estão ajudando o varejo em tempos de distanciamento social e quarentena.
A maioria delas envolve alta tecnologia, mas, de qualquer forma, podem servir como inspiração sobre a maneira como algumas empresas encontram alternativas em meio a crise. Mas, antes de mostrar quais são essas inovações, é necessário compreender a relação atual entre varejo e tecnologia.
Varejo e tecnologia: como anda esta relação?
Até o final de 2019, a relação entre varejo e tecnologia estava a aumentar exponencialmente. A CB Insights, empresa de tecnologia americana, divulgou um relatório indicando que o financiamento de tecnologias para varejo aumentou em 60%, alcançando um total de 3,7 bilhões de dólares no ano passado.
O crescimento também afetou o número de startups dedicadas a criar soluções tecnológicas para esse setor. Apenas nos Estados Unidos, 31 nasceram com o status de “unicórnio” em 2019. Vale mencionar que uma startup alcança esse título ao ultrapassar o valor de mercado de 1 bilhão de dólares antes mesmo de oferecerem suas ações na Bolsa de Valores por meio da abertura de um IPO.
A presença digital combinada com a experiência das compras físicas fez surgir o conceito de varejo omnichannel, o qual se torna realidade para mais empresas do setor a cada ano que passa. Isso significa que há mais investimento em uma experiência que integre diversas plataformas, tanto as on-line quanto as off-line.
Mais do que permitir que uma empresa esteja presente nas lojas físicas e virtuais, redes sociais, aplicativos, sites, ou em quaisquer outros canais que se fizerem necessários, o propósito da estratégia omnichannel é permitir que a marca ofereça uma experiência continuada de compra.
O consumidor atual – ou omnishopper, como muitos especialistas denominam – valoriza e considera todos os modelos de compras. O importante para ele é saber que é possível escolher a melhor forma de adquirir um produto, de acordo com o seu contexto e necessidade.
Separamos alguns dados que dão um panorama de quem é esse consumidor:
- Fonte: Criteo Shopper Story BR 2017
Um exemplo de ação omnichannel veio da gigante varejista Lojas Americanas. Por meio de inserções e provas feitas pelos participantes do reality show Big Brother Brasil 20, ela levou os espectadores do programa para seu aplicativo por meio de QR Codes para que comprassem os produtos exibidos nas competições. A C&A, que também realizou ações desse tipo no programa e viu um aumento de 340% no tráfego orgânico de seu e-commerce.
É seguro dizer que o varejo omnichannel também é uma das principais tendências na relação tecnologia e varejo em 2020. De acordo com a mesma pesquisa da CB Insights, a principal tendência para 2020 no varejo era que as experiências se tornariam mais pessoais, imersivas e automatizadas.
Tecnologias como realidade aumentada e virtual, uso de edge computing para uma coleta e processamento de dados mais ágil e aprendizado de máquina para personalização de experiências são algumas inovações que confirmavam essas tendências para 2020.
Porém, a Covid-19 começou a tomar o mundo em um ritmo catastrófico e obrigou o planeta a se adaptar a uma rotina diferente da habitual. Enquanto vacinas não são descobertas, países entram em quarentena para conter o avanço da doença. Até mesmo aqueles que já podem se considerar vencedores e estão a reabrir os negócios estão fazendo isso com cautela.
Como a Covid-19 impacta o varejo?
A Cielo divulgou um boletim divulgando que, desde o início do surto no país, o varejo total no Brasil apresentou queda de 28,4% até o momento. Apesar de o setor apresentar recuperação nas últimas semanas, nada impede que os números voltem a cair.
Por outro lado, as compras on-line subiram consideravelmente ao longo da pandemia, o que compensa alguns problemas na distribuição de produtos importados da Ásia, como vestuário e tecnologia. Gigantes do ecommerce como B2W e Magazine Luiza sofrem com o aumento desse custo, mas, ao mesmo tempo, aumentaram seu faturamento on-line.
Também podemos dizer isso das lojas de departamento como C&A e Renner, que já sofrem grande impacto com o fechamento dos shopping centers e com o aumento de custo na produção.
De acordo com o site especializado My Total Retail, varejistas devem tomar quatro ações para assegurar que os impactos do coronavírus não fechem as suas portas. São eles:
- identificar os produtos que geram maior demanda;
- encontrar um equilíbrio com a oferta;
- negociar e entender os custos de um produto;
- compreender o cenário competitivo e margem de proteção, especialmente dos novos competidores que parecem ter entrado no mercado para se aproveitar da situação.
- Como é possível cumprir essas quatro ações? Por meio de tecnologia e inovação, é claro! Por isso, confira abaixo 3 inovações que vão ajudar o varejo em tempos de distanciamento social.
Quais são as 4 inovações que podem ajudar o varejo em tempos de distanciamento social?
Com a mudança nas interações sociais e as fortes recomendações para que se evite o contato, a tecnologia cumpre o papel de suprir necessidades e amenizar os efeitos que o distanciamento social causa.
Não foi à toa que ferramentas para videoconferências explodiram em número de usuários desde o início da quarentena. O Zoom, por exemplo, foi de uma base com 200 milhões de usuários para os 300 milhões em apenas alguns dias.
A seguir, vamos mostrar como a tecnologia de realidade aumentada, o já citado varejo omnichannel e o delivery on-line são inovações que já auxiliam empresas a manterem suas portas abertas durante a pandemia.
Reuniões on-line para compras
Acessar uma loja virtualmente por meio de realidade aumentada é algo que víamos em filmes de ficção científica há poucos anos. O problema é que essa pode ser uma experiência solitária.
Com o distanciamento social obrigatório, uma startup criou a extensão para navegadores Squadded Shopping Party. Diferentemente dos apps de videoconferência habituais, esse aqui não serve apenas para se reunir on-line.
- fonte: Fonte: Squadded – Shopping Party
Por meio dele, pode-se acessar sua loja on-line favorita e reunir os amigos. Enquanto navega pelas opções disponíveis, os amigos têm a opção de votar e fazer comentários sobre as peças que escolheu, como se navegassem por uma loja física.
O Squadded Shopping Party é compatível apenas com páginas de lojas estrangeiras, como Boohoo e Prettylittlething. Ou seja, nenhuma loja on-line brasileira conta com a possibilidade de reunir amigos e reproduzir virtualmente a experiência de “dar uma olhadinha”.
Se usar o serviço exigir muitos recursos, você pode encorajar uma experiência semelhante. Basta ensinar seus visitantes e clientes a usarem aplicativos de videoconferência que possibilitam o compartilhamento de tela. Ao fazer isso, eles ajudam uns aos outros em suas compras e replicam essa experiência social que foi cortada por conta da pandemia.
Inteligência Artificial
Permitir que sistemas e máquinas apresentem comportamentos inteligentes semelhantes aos de humanos: essa é a premissa básica da Inteligência Artificial. Por isso, é comum associarem IA a produções cinematográficas e pressuporem que tudo começou ali, com robôs e máquinas futuristas.
Porém, a Inteligência Artificial já era realidade antes mesmo de fazer parte das grandes produções de ficção científica. O assunto começou a ser discutido na década de 50 e, desde então, tem se tornado uma inovação cada vez mais presente em nossa realidade.
Já comentamos aqui em nosso blog, como a Nike usa a Inteligência Artificial para melhorar a experiência do cliente. A marca implantou, em seu aplicativo, uma funcionalidade capaz de “escanear” e medir os pés dos clientes a fim de ajudá-los a encontrar o calçado ideal. Esse recurso, baseado em inteligência artificial, também utiliza uma série de tecnologias de machine learning e computer vision.
- fonte: www.marketing-interactive.com
Em tempos de distanciamento social, muitas empresas estão apostando na inteligência dos chatbots, que são grandes aliados no processo de relacionamento com o cliente. A rede de supermercados Lidl, por exemplo, lançou um chatbot on-line que permite que clientes consultem o melhor momento para fazer suas compras, a fim de que evitem filas e, assim, permitindo que os clientes planejem suas compras antecipadamente.
O mercado de chatbots já era uma tendência no varejo. Com a pandemia, o crescimento promete ser ainda maior. Antes do coronavírus, o instituto de pesquisa Globe NewsWire avaliou o mercado mundial de chatbots em 1,17 bilhão de dólares em 2018, prevendo que em 2026 ele estaria em 10,08 bilhões.
Coisas autônomas
O aumento das coisas autônomas, como robôs, drones e veículos, está entre as previsões da Gartner que deve seguir com força total nos próximos anos. Isso porque essas tecnologias automatizam inúmeras ações que até um período recente eram realizadas apenas por seres humanos. Entre as vantagens estão a redução de falhas e custos, elevando a produtividade e garantindo alto desempenho.
Nos últimos meses, foi possível observar algumas empresas usando a inovação para se adaptarem às mudanças impostas pela pandemia. Gigantes do mercado chinês foram os primeiros a inserir robôs e drones em seus processos. O aplicativo de entrega Meituan Dianping foi pioneiro no serviço “entrega sem contato” no país, ao utilizar veículos autônomos para enviar pedidos de compras de supermercado.
- fonte: www.techinasia.com
Uma das maiores redes de supermercados da Tailândia, a Tops Market, também apostou no uso de coisas autônomas na pandemia. Em abril, a empresa implementou um monitor na frente da loja, que pode ler as temperaturas dos clientes. Qualquer pessoa com temperatura acima de 37,5 graus Celsius acionará um alarme e a entrada será negada. Além disso, o monitor também detecta e avisa quando clientes não estão utilizando máscaras.
Realidade aumentada
O uso da realidade aumentada no varejo já era uma tendência para o futuro antes mesmo do coronavírus. Com a pandemia e a necessidade de as lojas ficarem fechadas, a experiência digital se tornou a única possível.
Um exemplo do uso da tecnologia de realidade aumentada para criar uma experiência virtual de visitação de loja veio da Kohl. A rede de lojas de departamento americana fez uma parceria com o Snapchat para criar um closet virtual no aplicativo.
Com isso, fãs da marca usam a rede social e ativam uma lente da loja na qual é possível ver e encomendar roupas, que ficam dispostas virtualmente pela sala, quarto ou escritório.
E o futuro?
A chegada da pandemia certamente traz um elemento de imprevisibilidade sem precedentes em nossa história recente. Por outro lado, o uso de tecnologias complementares como o aprendizado de máquina — que permite aos chatbots simularem a comunicação humana com mais precisão — ajuda a criar novos caminhos.
Enquanto muitos mercados estão em grande queda, é possível que tecnologias como a de chatbots, inteligência artificial e realidade aumentada deem um salto ainda maior que no passado.
E aí, conseguiu aprender um pouco mais sobre a inovação pode ser um diferencial competitivo em tempos de crise? Veja como a inovação tem sido importante para o processo de transformação digital nas empresas.